26 de março de 2008

Numa Caixa de Skinner

Publicado no Tribuna do Brasil de 10/11/2006
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No sábado passado, eu conversava com o grupo PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR a respeito de o que mantém muitas mulheres presas a homens problemáticos. Falávamos especificamente sobre aqueles que, embora tenham um comportamento lamentável em grande parte do tempo, volta e meia são amorosos, deixando a parceira confusa quanto aos sentimentos dele e ao futuro da união.

Lembrei, então, da faculdade, quando fazíamos experimentos com a famosa Caixa de Skinner. Funcionava mais ou menos assim: um ratinho faminto era colocado em uma pequena caixa com uma barra que liberaria para ele uma bolinha de comida se pressionada. Por estar em privação, o animalzinho movimentava-se muito e terminava por topar a barra, recebendo uma pelota de ração. Depois de algumas esbarradas, ele associava apertar a alavanca a receber comida. Estava estabelecido o comportamento pressionar a barra.

Se deixássemos que o rato recebesse ração sempre que apertasse a alavanca, ele abandonaria o comportamento instituído quando saciado. Se suspendêssemos o fornecimento, o animalzinho, depois de um tempo sem nada receber, também desistiria do procedimento, que se extinguiria. Mas se a liberação acontecesse de forma não contínua, intermitente, ele, ainda faminto, continuaria pressionando a alavanca, na expectativa da comida surgir.

Algo semelhante parece acontecer em algumas uniões. Imagine uma mulher casada com um homem que, em situação normal, é amoroso e responsável. Ela e os filhos estão vivendo felizes quando, um dia, ele aceita um convite pra tomar uma cervejinha. Sai na sexta-feira e só volta no domingo à noite, embriagado e transtornado, agredindo todos, ou numa tremenda ressaca, depois de muita bebedeira com companheiros de copo e a mulherada. Passado o estresse inicial, ele pede desculpas, promete nunca mais beber ou farrear e volta a ser maravilhoso, até o próximo porre.

A mulher fica dividida. Quando ele apronta, sofre e pensa em deixá-lo. Quando ele se mostra arrependido, lembra o quanto ele pode ser bom e se decide por uma nova oportunidade. Assim, a vida vai passando e a situação se agravando. Os prejuízos para todos os envolvidos, inclusive os filhos, são incalculáveis.

O que se observa, em geral, é que essa mulher tem uma carência enorme, com origem, muitas vezes, na infância. Está em estado de privação como o rato do experimento, só que não de comida, mas de carinho. Movimentando-se pela vida, ela, assim como o bichinho topa a alavanca, esbarrará num homem que lhe dará algo que ela chamará de amor, mesmo que seja uma atenção mínima. Associando aquele homem a felicidade, ela fará tudo para continuar recebendo seu afeto, como o rato pressionando a alavanca. Está estabelecido o comportamento insistir no relacionamento.

Se ele for amoroso sempre que solicitado, ela poderá ficar enjoada e se desinteressar depois de um tempo. Por não ser emocionalmente saudável, nunca estará feliz, mesmo que o companheiro seja tudo aquilo com que ela disse ter sonhado a vida inteira. Se ele lhe negar amor, ela insistirá no relacionamento, sofrerá muito com a rejeição, e acabará desistindo dele, movimentando-se em busca de outro. Mas se ele liberar afeto de forma intermitente, ora se comportando de maneira amorosa, ora com desrespeito, ela, sempre faminta de afeto, procurará manter a união, a qualquer preço, esperançosa apesar de tudo.

Essa mulher, tal qual o rato da experiência, parece viver de migalhas, à mercê de alguém nada confiável, de quem qualquer coisa pode ser esperada. E você? Conhece alguém que vive como se estivesse numa Caixa de Skinner? Até sexta-feira!


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