4 de setembro de 2003

rascunho

Publicado em 26/7/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro



A economia do Brasil vem crescendo e, com ela, as oportunidades de trabalho. Segundo a coluna Emprego S/A, do Bom Dia Brasil de 10 de julho, só em maio deste ano surgiram 172 mil novas vagas – 66 mil nas nove maiores regiões metropolitanas e 106 mil no interior. Em Jeceaba, município de Minas Gerais, por exemplo, uma das siderúrgicas mais modernas do país vai gerar 7.500 empregos, número muito maior do que o de habitantes.

Como dito na reportagem, a qualificação é importante, mas o atributo mais valorizado, na hora da contratação, é a disposição para aceitar desafios. Porque raramente essas oportunidades estão logo ali, na esquina de casa. Ao contrário, estão espalhadas pelo país, às vezes bem longe, e exigem que o candidato tenha visão, coragem, disposição, desprendimento, amadurecimento, para se arriscar numa mudança.

Muitos acreditam que, uma vez que se profissionalizaram, graças a um curso técnico ou superior, estão garantidos, o que não é verdade. Ter uma profissão, um ótimo salário, morar bem, numa cidade maravilhosa, cheia de recursos e diversões é o sonho de todos nós. Mas não é assim que a banda toca. Esses paraísos consagrados não costumam ter vagas dando sopa. Neles, a concorrência é muito grande. E o resultado disso é gente frustrada por trabalhar em área diferente da de sua formação, ou reclamando sem parar das altas exigências e dos baixos salários.

Esses desavisados ficam por ali, como que pregados na cidade onde nasceram ou cresceram, incapazes, muitas vezes, de se descolar dos familiares, freqüentando a mesma roda de amigos, indo aos mesmos lugares e se lamentando por não conseguirem emprego. Alegam falta de sorte, que o mercado está difícil, que a economia está recessiva. Sem conseguirem se movimentar de forma diferente, parecem cachorro correndo atrás do rabo - não saem do lugar e ainda ficam exaustos.

É preciso ter visão e ousar. Lembro de uma conversa com meu filho quando ele tinha uns oito anos. Eu lhe disse que faria uma poupança para que ele pudesse estudar numa grande universidade, até mesmo nos Estados Unidos ou na Europa, se fosse o caso – coisa de mãe coruja de filho único. Só que ele me surpreendeu ao revelar que não poderia estudar nem mesmo no Brasil, já que estaria morando numa estação espacial de Marte.

É claro que ninguém precisa mudar para Marte. Aliás, espero que o meu baby nunca se transfira pra lá. Se for assim, corro o risco de sair daqui para o nascimento de um neto e só chegar pro aniversário de um ano. Mas Jeceaba é bem ali. Essa gente precisa se mexer, desmamar. O Brasil é muito grande e há lugares necessitando e muito de profissionais já prontos ou com vontade e coragem para se preparar.

E pra ajudar a animar essa galera, deixo um trecho de Nos bailes da vida, de Milton Nascimento: “Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol. Tenho comigo as lembranças do que eu era. Para cantar nada era longe, tudo tão bom. 'Té a estrada de terra na boléia de caminhão. Era assim. Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão. Todo artista tem de ir aonde o povo está. Se foi assim, assim será. Cantando me desfaço e não me canso de viver, nem de cantar”. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!