28 de julho de 2007

Puff

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.

Na semana passada, minha amiga Dalva Helena perdeu um companheiro - morreu Puff, um de seus "meninos", um poodle todo branquinho e fofo de onze anos. Ela ficou bem triste, como era de se esperar - chorou muito, mesmo sabendo que a morte não é o fim.

O tamanho da tristeza dela me comoveu. Também tenho três gatos que são pra mim tal qual filhos. Diferentemente de outras pessoas, não vejo Frajola, Menininha e Docinho como fontes de trabalho e despesa. Nós trocamos carinhos e eles me trazem muitas alegrias. São meus parceiros de vida, verdadeiros e amorosos.

Muitos questionam a legitimidade desse tipo de relacionamento, de amor, entre um ser humano e um animal. E, em caso de morte, acham que uma grande dor só é cabível se se tratar de um parente querido ou um amigo muito próximo.

Lembro de uma paciente que estava péssima por ter sentido mais a morte do seu cachorro do que a da própria mãe. Era difícil, até mesmo para ela, entender uma coisa assim, embora o cão tenha sido um grande amigo e a mãe a tenha prejudicado terrivelmente.

Essas reflexões me fazem lembrar outra amiga que também adora cães, já tem um e, se pudesse, adotaria todos os que encontra pelas ruas. Um dia, ela me ligou angustiada, sentindo-se uma pecadora, por não ter o mesmo carinho e disposição para acolher uma das muitas crianças que estão também abandonadas. A predileção pelos animais a estava incomodando.

Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente - as que adorem crianças, as que curtam idosos, as que amem animais, as que prefiram se cercar de plantas. Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente para se ocupar e dar amor a todo tipo de criatura.

Não importa a qual espécie de ser ou a quem você dirige o seu amor. Não importa se prefere uns a outros. Chegará o dia em que nós todos nos amaremos verdadeiramente, sem distinção. Mas, até lá, não devemos nos prender àquilo que não conseguimos ainda. Devemos amar quem, como e quanto pudermos. E nos alegrar com essa conquista porque é isso o que a capacidade de amar representa - uma vitória.

Conforme dito pelo Espírito Joanna de Ângelis, no livro Amor, imbatível amor, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco, o amor é a substância criadora e mantenedora do Universo; que, quanto mais se divide, mais se multiplica; que se enriquece à medida que se reparte; que se agiganta na razão que mais se doa; que se fixa com mais poder quanto mais se irradia; que nunca perece porque não se enfraquece.

O amor está presente em todos os seres - os ditos racionais e os ditos irracionais, variando apenas de expressão e de dimensão. Ele une almas, alimenta corpos e nutre o nosso eu profundo. Por isso é importante que esse sentimento seja lançado no mundo. Quanto mais amor, melhor.

Então, a você, Dalvinha, tenho a dizer que essa tristeza passará, como você bem sabe. Mas, o amor que você dedicou ao Puff e o que ele dedicou a você permanecerá para sempre. E todos continuaremos a ser, indistintamente, por ele tocados. Temos muito a agradecer aos dois.

21 de julho de 2007

Sem fiança

Publicado no Tribuna do Brasil de 20/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Na última terça-feira, assisti a uma palestra, na Comunhão Espírita de Brasília, intitulada Drogas à luz do Espiritismo - prevenção e tratamento, feita por um profissional competente e carismático que se dedica incansavelmente à causa, o Químico e Toxicologista da Polícia Civil Olegário Versiani.

Foi uma exposição objetiva e muitíssimo esclarecedora que ratificou informações já conhecidas e trouxe novos dados sobre o tema. Além disso, um bate-papo carinhoso, que restaurou a esperança de muitos corações aflitos que lá estavam.

Durante a conferência, enquanto Olegário falava a respeito do impacto físico, emocional e social do uso de drogas, aí incluído o álcool, lembrei do caso do homem que se recusou a pagar fiança de quinhentos reais para retirar da cadeia o filho de 21 anos, preso por dirigir bêbado.

Foi o próprio pai quem chamou a polícia, ao ser alertado pela mulher de que o rapaz pegara a caminhonete da família sem autorização. Além de embriagado, o jovem estava sem habilitação, suspensa há alguns meses. Cansado de aconselhar o filho, que volta e meia aprontava, faltando ao serviço, bebendo e se drogando, ele havia lhe dito que o amava, mas não mais passaria a mão pela cabeça dele. E cumpriu a promessa.

Após nove dias de prisão, o jovem foi solto graças a uma decisão judicial. Indiciado, poderá ser condenado a pena que varia entre seis meses e três anos de detenção. Entretanto, segundo a imprensa, deixou a prisão declarando que o pai agiu acertadamente e que está disposto a se tratar e a mudar pra valer.

Imagino o quanto não foi difícil para aquele homem fazer o que fez e seguir com a vida, sabendo que o filho estava preso, dormindo e acordando numa cela. Ninguém deveria passar por uma coisa assim, nem pais nem filhos. Mas a nossa ignorância não nos permite gozar a felicidade plena.

Ao fazer o que fez, acredito que o pai tenha tentado transmitir ao filho que não está mais disposto a ser conivente com os erros por ele cometidos a despeito dos conselhos, da orientação, do carinho. Ele deverá arcar sozinho com as conseqüências das suas atitudes.

E, ao dizer ao filho que o ama, acredito que tenha tentado passar a mensagem de que está pronto a ajudá-lo caso ele decida deixar de lado o álcool e as drogas, a delinqüência, para dar outro rumo à própria vida.

A paternidade é uma verdadeira missão. Quando colocamos no mundo ou recebemos um ser que nos compete formar, precisamos entender que temos sob nossa responsabilidade um filho de Deus, um irmão. Mas, independentemente de sua verdadeira origem, que é Divina, e dos nossos melhores esforços, não há garantias. E sofremos, como se tivéssemos perdido um pedaço, quando vemos nossa cria fracassar.

É difícil criar um filho num mundo que consome álcool e drogas cada vez mais. É difícil dizer não a um ser tão querido. É difícil distinguir amor de permissividade, especialmente num relacionamento tão íntimo. Entretanto, muitas e muitas vezes, é mais do que necessário, é imprescindível, é essencial.

Disse Confúcio que a maior glória não está em nunca cair, mas em levantar a cada queda. O verdadeiro pai e a verdadeira mãe sempre estarão prontos a ajudar um filho sinceramente disposto a se recuperar, não importando as faltas por ele cometidas. O meu desejo é o de que essa família consiga ser feliz. Até sexta-feira !

15 de julho de 2007

Efeito Bebel

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Gosto de assistir a novelas. Prefiro as "de época", mas as contemporâneas me trazem informações sobre o que anda rolando no mundo da moda de vestir, de pentear. Mais prático do que visitar shoppings ou ler revistas sobre a matéria. Sempre gostei, apesar de as histórias seguirem um padrão, não exigindo esforço para que se adivinhe o final.

Mas, nos últimos anos, os autores parecem ter enxergado a grande oportunidade de se aproveitar o interesse das pessoas pelos folhetins para mostrar dramas que fazem parte do nosso quotidiano, como o alcoolismo, a violência doméstica, o racismo, a homofobia, levando mensagens de utilidade pública, derrubando tabus e preconceitos.

Só que, como diz a música, o que dá pra rir dá pra chorar. Quando Paraíso Tropical começou, senti que a personagem interpretada por Camila Pitanga poderia se transformar num ídolo. A atriz é linda e carismática. Muitos homens sonham poder dela se aproximar e muitas mulheres adorariam ser como ela.

O resultado é que a Bebel faz tanto sucesso que, no Programa Mais Você de terça-feira passada, foi apresentada uma matéria sobre o assunto. Adultos, adolescentes e crianças a consideram o máximo. Curtem o jeito dela se comportar, falar, andar, vestir. Divertem-se com as gafes e com o que ela apronta pra conseguir o que quer. Tudo muito encantador.

Entretanto, é preciso que se diga que não há glamour no mundo da prostituição. A Bebel é meretriz de novela. As da vida real, inclusive as que fazem ponto no famoso calçadão de Copacabana, não usam roupas caras como as dela, vindas diretamente dos camarins da Globo, mas coisas simples, normalmente compradas em feiras, que é o que o dinheiro ganho "na vida" permite.

Também não vivem rodeadas de empresários e "mauricinhos" enlouquecidos, dispostos a tudo para tê-las com exclusividade, fixas. Ao contrário, precisam fazer vários programas por dia, se não quiserem apanhar do cafetão, passar fome, dormir ao relento.

Estão sempre expostas a doenças e a outros perigos. Arriscam-se a serem escravizadas, violentadas, agredidas e mortas. Vivem cercadas de malfeitores de toda espécie, num mundo que inclui traficantes de drogas, de armas, de mulheres e de crianças, malandros, ladrões, assassinos e até jovens bandidos de classe média alta. Não há beleza ou charme no meretrício.

Fico preocupada com o interesse das garotas pela Bebel, em se vestir como ela, em falar como ela. É preciso que se diga às crianças que ela fala e se comporta daquele jeito porque é uma jovem sem educação, sem instrução; que ela se veste de forma a expor um corpo que será vendido a um estranho, com quem manterá contato sexual por dinheiro, sem o menor envolvimento, num encontro vazio de sentimento, nada romântico.

Fico preocupada quando vejo as garotas vestidas daquela forma. É diferente de quando uma adulta usa aquele tipo de roupa, porque ela sabe exatamente o que poderá despertar, atrair. Uma criança não tem essa noção. E o mundo está cheio de gente má, pervertida, que, ao ver uma menininha vestida como a Bebel, não vai enxergar ali uma imitação ingênua, infantil, de um personagem de novela, mas alguém que faz um convite, que se oferece como uma prostituta.

Não julgo quem entra nisso por necessidade, conveniência, convicção ou ignorância. Mas sei que muitas mulheres que estão no meretrício foram seduzidas ainda jovens demais para ver o que se esconde por detrás desse apelo fantasioso, jovens demais para dizer NÃO, acreditando que, um dia, um Richard Gere apareceria e enxergaria nelas uma linda mulher. Até sexta-feira !

8 de julho de 2007

O preço da liberdade


Publicado no Tribuna do Brasil de 06/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


O preço da liberdade é a eterna vigilância. A frase é conhecida, mas, quanto à autoria, há controvérsias. Alguns a atribuem a Aldous Huxley, autor de Admirável mundo novo, que estaria nos advertindo para que estivéssemos atentos, não permitindo o futuro sombrio desenhado no livro. Outros a creditam a Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, que afirmava que o poder está sempre roubando dos muitos para os poucos, o que exigiria precaução.

Mas há quem a atribua a Patrick Henry, que governou a Virgínia no século XVIII e ficou conhecido por sua oratória apaixonada contra a escravidão. Assim como ao estadista irlandês John Philpot Curran, que teria incluído em um dos seus discursos que "É comum o indolente ver seus direitos serem tomados pelos ativos. A condição sobre a qual Deus dá liberdade ao homem é a eterna vigilância; se tal condição é descumprida, a servidão é, ao mesmo tempo, a conseqüência de seu crime e a punição de sua culpa".

Independentemente de quem tenha sido o autor, todos foram maravilhosamente felizes ao declarar que devemos ser cuidadosos e proativos, competentes e ágeis o bastante para prever problemas, necessidades ou mudanças, alterar eventos, fazer acontecer em vez de apenas reagir.

Mas creio que, para a verdadeira liberdade, necessitamos nos voltar para nós mesmos, vigiando nossos pensamentos. Porque são eles que comandam nossas vidas e podem gerar sentimentos que funcionam tal qual prisão, como a raiva, o ciúme, o medo, a inveja, a tristeza, a angústia, e que podem nos levar a atitudes nocivas.

Isso me faz lembrar o sujeito que ia dirigindo quando o pneu do carro estourou. Ele estava sem macaco e logo percebeu que, por ali, não passaria nenhum socorro. Dominado pela raiva, avistou uma casinha no alto de um morro. Não havia outra saída - o jeito era encarar a caminhada, que não ia ser nada fácil, pra tentar conseguir ajuda.

No caminho, ele ia ruminando as piores idéias. Só lhe passavam coisas ruins pela cabeça. Pensava que talvez o esforço fosse inútil, pois a casa poderia estar abandonada ou vazia; ou talvez lá não houvesse um macaco que servisse; ou o dono não o quisesse emprestar; ou o recebesse mal, sem dar a mínima pra ele.

À medida que imaginava cada uma dessas situações, sentia o sangue ferver, odiando aquele que já via como um inimigo. Seguia envolvido por pensamentos que iam despertando e alimentando sentimentos péssimos. Quanto mais pensava, pior se sentia. Ao chegar, estava transtornado, tão preso naquele emaranhado mental quanto um inseto numa teia de aranha.

Então, ao abrir a porta, o dono da casa deparou com um sujeito enlouquecido, que ele nunca havia visto e que, sem mais nem menos, deu-lhe um soco, gritando que não precisava de macaco algum, e que, batendo a porta, tomou o caminho de volta, morro abaixo. Um verdadeiro desastre!

O que o sujeito não sabia é que o dono da casa era mecânico aposentado e um exímio borracheiro, pessoa boníssima, conhecido por estar sempre disposto a ajudar todos os que por ali passavam. Além de não receber ajuda, o agressor quase foi linchado pelos moradores do povoado. Ele não chegou a ser preso pelo que fez, mas, durante muito tempo, amargou grande remorso.

Assim, se as coisas não estiverem indo bem pra você, se estiver se sentindo preso de alguma forma, pare e observe suas atitudes, sentimentos e pensamentos. Quem quer ser realmente livre, deve estar sempre vigilante, mas não atento ao resto do mundo, como muitos pensam. Quem quer gozar a verdadeira liberdade, deve tomar cuidado com os próprios pensamentos. Esse é o preço. Até sexta-feira!

2 de julho de 2007

Um feliz aniversário!

Publicado no Tribuna do Brasil de 29/6/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci

Na próxima segunda-feira, dois de julho, esta coluna completará um ano de existência. A Psicoproseando... com Maraci está fazendo um feliz aniversário. Foi um tempo de muitas alegrias, de proximidade com os leitores, alguns fiéis que não só acompanham as crônicas, as comentam, mandando mensagens eletrônicas e torpedos, telefonando. Para mim, a data tem um especial significado.

Mas esse não é o único acontecimento importante do período. Na última quarta-feira, 27 de junho, comemoramos o aniversário da Regina Pires, a madrinha desta coluna, a primeira pessoa a acreditar que o que vocês lêem toda semana merecia ser lido por mais gente. Foi ela quem me apresentou ao Moa, da Tribuna, dando início a toda essa história.

Regina é ímpar. Elegante, loura e de olhos azuis, é uma bela mulher. Não é mais uma garota, mas conserva a jovialidade de uma adolescente, que as dificuldades da vida adulta, a maternidade, o ritmo estressante de trabalho não conseguiram apagar. Uma mistura interessante, mescla de hippie e workaholic. Não sei se ela está mais para alguém que chegou de Woodstock e assumiu um tailler, ou mais para uma executiva que, apesar de tudo, consegue se manter "em alfa", como se costumava dizer na década de 70.

É uma canceriana típica, responsável, tenaz, carismática, hospitaleira, protetora, sonhadora, receptiva, apreciadora da beleza, sensível, com uma grande capacidade de trabalho. E espero que a Psicoproseando, a exemplo de sua madrinha, torne-se cada vez mais bonita, atual, ousada, séria, honesta, alegre, polêmica, guerreira, intrigante, direta, simples, inspirada e inspiradora.

Ao longo desse ano, Regina acompanhou esta coluna, analisando os textos de forma séria ou brincalhona, fazendo, muitas vezes, comentários do tipo "nada a ver" com uma graça única. Riu, chorou, criticou, divulgou, vibrou com o que leu, deixando-me envaidecida. Tenho muito a lhe agradecer.

Sei que ela não curte comemorar o próprio aniversário, mas sei que adora previsões. Então, permito-me arriscar algumas, diretamente das cartas do Tarô:

Querida Rê,

De acordo com a data do seu nascimento, você é regida pelo Arcano Maior O Julgamento. Assim, é uma pessoa que nasceu com uma carga de responsabilidades além do normal, o que faz com que sua cobrança interior, a exemplo da exterior, seja bastante pesada. Isso tende a provocar um desequilíbrio que mais facilmente poderá ser superado se você escrever ou encontrar alguém para conversar. A escrita, para uma jornalista do seu naipe, não é nenhum problema. Mas, se preferir a troca de idéias, sabe que não lhe faltam amigos, inclusive eu, para falar sempre que quiser ou precisar. Então, está fácil!

Neste ano, especificamente, você está sendo guiada pelo Arcano Maior Os Namorados. Isso quer dizer que a atração universal agirá. Não espere muito para tomar uma decisão amorosa ou profissional. Ouça, na hora da escolha, o coração. Se os problemas emocionais interferirem no trabalho, afaste os pensamentos e se concentre no que deve fazer. Zele por sua saúde mental, evitando desgastes ao sistema nervoso. Elimine o que desequilibra ou pressiona desnecessariamente. Mas, se o bicho pegar, recorra a nós, seus amigos. Você tem o nosso coração. Muitas felicidades !